O “dedo em gatilho” é uma condição que afeta a capacidade normal da mão de abrir e fechar. Isso ocorre quando um tendão na mão fica irritado e inchado, causando dificuldade em mover o dedo ou o polegar. Esse problema pode ser mais comum do que você imagina, especialmente entre pessoas com mais de 45 anos, diabéticos ou aqueles com artrite reumatoide.
Imagine o incômodo de não conseguir dobrar ou esticar um dedo como de costume, especialmente para pessoas que trabalham com movimentos repetitivos ou levantamento de peso. Vamos explorar como identificar, tratar e até mesmo prevenir esse problema.
O dedo em gatilho é quando o movimento suave dos tendões na mão fica prejudicado. Para entender isso, pense nos tendões como cabos que conectam os músculos do braço aos ossos da mão. Dentro dos dedos, eles passam por túneis feitos de ligamentos chamados polias, que ajudam a mantê-los no lugar. É como se fosse uma linha passando por anéis em uma vara de pescar. Quando você mexe os dedos, os tendões deslizam dentro desses túneis de forma suave, graças a um líquido lubrificante chamado líquido sinovial.
No dedo em gatilho, essas polias na base do dedo ficam mais espessas, apertando os tendões e dificultando seu movimento suave. É como tentar passar um nó por um buraco de agulha – ele trava e só depois de um esforço extra é que consegue passar. Isso causa um bloqueio no dedo, que pode ser doloroso para o paciente. Quanto mais o dedo engatilha, mais inflamados ficam os tecidos ao redor, dificultando ainda mais o movimento dos tendões e entrando em um ciclo vicioso.
Quando o dedo em gatilho começa, você pode sentir desconforto na base dos dedos ou na palma da mão, às vezes até no polegar. Essa área fica sensível ao toque e pode haver um nódulo ali. Os sintomas costumam ser piores quando você tenta mover o dedo pela primeira vez pela manhã, depois de acordar. Isso acontece porque durante a noite, as mãos ficam mais inchadas devido à redistribuição dos fluidos que estavam nas pernas durante o dia.
Inicialmente, você pode pensar que o problema está no próprio dedo, na articulação do meio. É lá que você sente um movimento brusco e o dedo parece ficar preso. Mas na verdade, o bloqueio acontece na palma da mão, não no dedo. Às vezes, você pode precisar da outra mão para desbloquear o dedo engatilhado e, em estágios avançados, o bloqueio pode ser completo, você não consegue mais esticar o dedo, nem mesmo com a ajuda da outra mão.
Normalmente, apenas um dedo é afetado, sendo mais comum que seja o dedo anular ou o polegar. No entanto, às vezes, mais de um dedo pode ser afetado, especialmente se houver outra doença associada.
O dedo em gatilho pode afetar pessoas mais velhas, diabéticos, com artrite reumatoide ou pessoas com distúrbios hormonais. Movimentos repetitivos, apertos fortes ou levantamento de peso podem irritar os tendões, levando à condição. É menos comum em crianças, mas pode ocorrer sim. Nesses casos, geralmente o diagnóstico é feito durante o primeiro ano de vida.
Esse problema é mais frequente no polegar, o que também é chamado de “polegar em gatilho congênito”. Acredita-se que não seja necessariamente uma condição congênita, já que a maioria das crianças nasce com as mãos normais. O bloqueio do polegar começa a ocorrer conforme a criança cresce e usa mais as mãos, mas, em alguns casos, pode ocorrer até mais cedo.
Nos casos de crianças, o nódulo é mais palpável, o que pode levar a confusão com um cisto ou tumor. No início, a criança pode sentir um estalido ao mover o dedo. Mas em estágios avançados, o tendão pode bloquear completamente, impedindo a movimentação do dedo.
O diagnóstico é feito pelo médico durante um exame da mão do paciente. Quando o caso é claro, é fácil de diagnosticar, pois o médico pode observar o dedo bloqueado e sentir o nódulo no tendão. No entanto, nas fases iniciais, quando o dedo ainda não está bloqueado, pode ser mais difícil de diagnosticar.
Não é necessário fazer nenhum exame de imagem para diagnosticar o dedo em gatilho. As radiografias não mostram nada de errado, porque não há problema nos ossos. A ecografia pode mostrar que os tendões e polias estão inflamados e mais grossos do que o normal, além de poder mostrar o bloqueio do dedo, já que é um exame que pode ser dinâmico.
Infelizmente, as opções de tratamento para o dedo em gatilho são limitadas. Nas fases iniciais, uma opção é fazer reabilitação com uso de fisioterapia e, em casos refratários, uma injeção no tendão com cortisona e xilocaina. Isso reduz a inflamação e o inchaço no tendão, permitindo que ele deslize suavemente pelas polias novamente, sem ficar preso. Mas esse tratamento pode não ser permanente, e o dedo pode voltar a engatilhar depois que o efeito do medicamento passar.
Nos primeiros dias após a injeção, o paciente pode até sentir piora devido ao trauma e ao volume do medicamento injetado, mas depois de alguns dias, os sintomas costumam melhorar e o tratamento pode levar cerca de um mês para mostrar seu resultado completo.
Não é recomendado fazer várias injeções no mesmo local, pois a cortisona pode enfraquecer os tendões saudáveis. Quando a injeção não funciona ou quando a doença está mais avançada e afeta vários dedos, a cirurgia é a opção de tratamento. É um procedimento rápido, mas a recuperação pode levar algumas semanas.
Durante a cirurgia, uma incisão é feita na base do dedo e a polia que está causando o bloqueio no tendão é aberta. Isso não causa problemas, pois existem outras polias para assumir sua função. A cirurgia geralmente é feita como um procedimento ambulatorial, ou seja, o paciente vai para casa no mesmo dia.
Para pacientes que não podem fazer o procedimento aberto, há uma técnica de liberação do dedo em gatilho que utiliza uma agulha, evitando cortes na pele. No entanto, essa técnica pode ser mais arriscada, pois não é possível visualizar diretamente as estruturas internas da mão.
Outras tentativas de tratamento, como fisioterapia, gelo ou medicamentos anti-inflamatórios, podem aliviar os sintomas temporariamente, mas não impedem a progressão da doença. O uso de talas e órteses pode proporcionar alívio, mas também pode levar à rigidez articular e atrofia muscular se usadas por um longo período.
Em crianças, geralmente não é recomendado operar antes dos dois anos de idade, pois há uma chance de que o dedo em gatilho melhore espontaneamente, independente do tratamento. Após os dois anos, a cirurgia pode ser considerada se não houver melhora.
Depois da cirurgia, é importante que o paciente movimente os dedos livremente, especialmente com a mão virada para cima para evitar inchaço. No entanto, é preciso evitar fazer esforços, como levantar objetos pesados.
O primeiro curativo é feito até uma semana após a cirurgia e depois é substituído por um mais leve. Com 10 a 14 dias, os pontos são retirados e o paciente pode molhar o ferimento. Depois disso, ele pode retomar todas as atividades, incluindo esportes.
Às vezes, é recomendado massagear a cicatriz com creme hidratante e/ou corticóide para controlar o inchaço e prevenir aderências e fibrose na cicatriz.
Após a cirurgia, não há risco de o dedo em gatilho retornar, pois a polia aberta durante o procedimento não pode se fechar novamente. No entanto, outro dedo pode ser afetado e começar a engatilhar.
Geralmente, não é necessário fazer fisioterapia formal após a cirurgia. O paciente recebe exercícios para fazer em casa. Em casos em que há dificuldade para realizar os exercícios ou quando o dedo permanece bloqueado por muito tempo, pode ser necessário fazer fisioterapia para recuperar a mobilidade, alongar os músculos, reduzir o inchaço e fortalecer o dedo.
A melhor forma de prevenir é estar ciente dos sintomas e procurar ajuda médica ao notar algo incomum na sua mão.
Com essa informação, espero que você possa reconhecer os sinais do dedo em gatilho e saber como lidar com eles. Se você ou alguém que você conhece está enfrentando esse problema, não hesite em procurar orientação médica e um especialista em cirurgia da mão.